sábado, 22 de junho de 2013

Entrei num livro ...


   Estava a arrumar o meu quarto, mais especificamente a arrumar a minha prateleira dos livros, quando de repente um livro caiu, batendo-me na cabeça. Ao bater na minha massa cinzenta, aconteceu algo estranho, que não sei explicar, entrei num lugar onde nunca tinha estado, desconhecia de todo a sua existência.        Quando dei por mim, reparei que estava perdida no livro que atingiu minha cabeça…
Caí de para-quedas no livro que acabei por entrar, por ele passeie entre as linhas, desfolhando todas as páginas, encontrando letras que unidas pela tinha preta, formavam palavra. Cruzei-me com as letras maiúsculas que iniciavam frase, que salientavam alerta, que iniciavam um nome próprio… cruzei-me com as minúsculas, aquelas que complementam o que as maiúsculas iniciaram, aquelas que finalizam as palavras…
No passeio que realizei pelas folhas do livro, tive a oportunidade de conversa com pontos de interrogação aqueles que interrogam, com os de exclamação aqueles que manifestam admiração, com as vírgulas, aquelas que nos remetem a paragens, os dois pontos, aqueles que indicam que alguma personagem irá narrar, os pontos finais, que indicam o fim de uma frase narrada por uma personagem, que no seu guião encontra todos estes pontos, sendo o ponto final sempre o último a ser lido pelos seus olhos que leem.
O livro possuía um perfume sublime, agradável, impossível de esquecer aquele perfume que cativou minhas narinas, o cheirinho das rosas perfumadas…
Quando estava esticadinha nas folhas lisas, decoradas pela escrita, embelezadas pela arte, cruzei-me com as personagens das histórias, encontrei umas, que pareciam bruxas, metendo medo aos olhos que as viam, outras que pareciam bonecas, encantado o coração de quem as recebia…
Certa altura em que virei uma página assustei-me com um personagem, tão alta e robusta, vestida de verde escuro e com uma espingarda na sua mão direita. O meu medo era tal, que até corri para o primeiro ponto para me esconder, sendo por sorte o ponto de interrogação a ser o primeiro visto, ele que é grande e gordito, ideal para me refugir de quem tanto me assustava. 
Escondidinha nas costas do ponto termia por todo o lado, até que o Srº Interrogação me perguntou:
- O que estás atrás de mim? Não me digas que estás com medo, daquela personagem?
Eu com a voz trémula respondi:
- Confesso que estou com muito medo, daquele senhor verde, por isso vim esconder-me nas tuas costas. Desculpa se te incomodei, mas foste o primeiro ponto de abrigo que encontrei.
O Sº Interrogação tranquilamente respondeu:
- Não há razão para teres medo, de quem estás a ter medo, o Senhor verde, é um soldado, que tem uma espingarda para combater, protegendo os bons defendendo-os dos maus e tu, não és uma menina má, não tens que ter medo, ele está na história para lutar pela nossa liberdade, pela nossa felicidade…
Com tais palavras, fiquei muito mais descansada e meus medos voaram sem destino. Certa altura ouve-se um relógio de parede a cantar “São cinco horas, são cinco horas ” e eu dou um salto e grito:
- Ballet, está na hora!
Dirigindo-me para o Sr. Interrogação, aquele que me deu suas costas, para eu aconchegar meu coração amedrontado, dizendo:
- Sou bailarina de Ballet e já estou atrasada, vou ter saltar da história e aterra na realidade, aquela que nem sempre é a mais desejada mas é a única que é vivida, a vida real…
E foi com o canto do relógio, que acordei da fantasia, abrindo-me a porta para a vida que vivo, a real…
No caminho até ao salão de ballet, os meus pensamentos estavam sempre voltados para a história que vive, a história em que entrei com um toque na cabeça, com a queda de um livro na prateleira… pensava na historia que criei ao arrumar a prateleira dos livros, aquela em que me cruzei com pontos, linhas, palavras e personagens… aquela história que só a imaginação cria… E é ela, a imaginação a chave que nos conduz a outros mundos, a mundos nunca pisados mas muito imaginados…
Imaginação é o volante que nos conduz ao mundo da criação.

Susana V

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